Thursday, December 11, 2008

Os cromos da bola

A coisa começou nem sei muito bem como. Um dia falou-me do Miguel "Guloso". Noutro dia era o João Moutinho. Uma noite, em frente da televisão, desatou aos gritos porque tinha visto o Aimar. Quem, meu filho? Nunca imaginei que ele fosse assim tão fanático da bola, afinal, estamos a falar de um puto de quatro anos que ainda não percebeu muito bem o que quer dizer "ser" de um clube e que fala com a mesma paixão do Benfica, do Trofense, da Académica e até do "Guima", diminutivo carinhoso com que se refere ao Vitória de Guimarães. Até que um dia, a completo despropósito, ele diz-me que tem de escrever a carta ao pai natal porque tem de pedir como prenda uma caderneta de cromos de futebol. Foi nessa altura que comecei a pensar que talvez isto dos cromos fosse mais importante do que eu tinha imaginado. Seja. Vamos lá perguntar no quiosque o que é que se passa. A alegria do miúdo quando recebeu os primeiros pacotinhos de cromos é algo indescritível. Aquele sorriso de espanto, a ansiedade a rasgar o papel, os olhos esbugalhados - olha o Dí Maria e o Tiago e o Maxi Pereira. Mais uma vez: quem, meu filho? Pois esta criança que parece que engoliu uma embalagem inteira de pilhas duracel (quem o conhece sabe que eu não estou a exagerar), que não pára quieto mais do que dois minutos, que corre e salta de manhã à noite que até às vezes desconfio que isto é hiperactividade (o pediatra ri-se mas eu ando tão estafada que já não acho muita graça), de repente, esta criança arranjou uma verdadeira entretenga: todos os dias, quando recebe a sua dose diária de cromos, fica quieto e calado durante pelo menos uma meia hora, compenetrado perante a seriedade do momento, a abrir os pacotes, a ver e rever os cromos todos, a procurar os números, a atrapalhar-se com aqueles dedos pequeninos até conseguir abrir os autocolantes (eu faço sozinho, mãe, eu faço) e colar todos os jogadores no sítio e, finalmente, a passar as páginas uma e outra vez. Quem é este, mãe? E este? E este? Obrigando-me a repetir até ele decorar aqueles nomes todos. O Tiago e o Pereirinha e o Luisão e o Liedson e o Lucho González. Quem? Com os cromos da bola tenho aprendido coisas fantásticas. Por exemplo, que o Quim é um craque. E que as brincadeiras mais simples são mesmo as melhores.

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7 Comments:

Blogger CGM said...

Nós começámos assim, e agora já estamos mais internacionais e mais técnicos. Aos seis anos dominam-se tácticas (a mais recente paixão) e equipas inteiras nacionais, e internacionais.

Nessa fase do teu miúdo, o meu adorava decorar as alturas. Sabia a altura de todos os jogadores da caderneta. Essa, a primeira, orgulhosamente acabada - garanto-te que se gasta uma pequena fortuna, que daria para comprar um brinquedo dos caros - ainda a temos lá em casa, gasta, rasgada e muito folheada.

Parabéns, portanto. É um orgulho vê-los interessados, mesmo que seja nos cromos da bola.

11:29 PM  
Blogger Charroque da Prrofundurra said...

Que bom ter duas filhotas que não percebem nada de futebol como o pai. De qualquer modo é bem divertido brincar com os cromos. A diferença hoje é que não há cromos para a troca. Nós, pais, compramos logo todos os que forem precisos.

1:53 AM  
Blogger Noc@s said...

Join to the club. Tenho lá um igual e mesmo quando não tem cromos novos pede "Mãe anda conmigo ver a cadeneta" E lá estamos a ver a rever os nomes dos jogadores ;-) E sim também tenho aprendido coisas fantásticas LOL
Jocas cromas ;-)

10:05 AM  
Blogger Rita said...

Bem, eu soube que o rapaz já tinha a caderneta pelo pioho lá de casa que sabe de cor os que lhe faltam e não faltam. Além de ser giro - eu adorava cadernetas de cromos só que as minhas eram da Candy Candy - é fixe para eles trocarem e saberem que é bom dar a quem falta um porque podemos receber o que nos falta a nós. E isto, minha querida, não são tácticas. É uma filosofia de vida. Se é à custa do Trofense, do Leixões e do Guima, who cares... :)

12:58 PM  
Blogger gata said...

Pareceu-te que eu estava a dizer mal da caderneta, Rita? Erro meu que não me expliquei bem. Eu acho o máximo. E acho óptimo que ele adore. Uma brincadeira assim que exige tanta dedicação e empenho tem outro valor, é muito melhor do que qualquer brinquedo. Desculpa se não me fiz entender (mas, afinal, está-me sempre a acontecer. tenho de concluir que sou uma péssima comunicadora)

2:47 PM  
Blogger IPQ said...

Não posso deixar de rir com este teu post, minha amiga. O Henrique, durante a mudança de casa, perdeu a sua caderneta do Benfica. E não imaginas a dor que foi... ontem, tive de voltar à casa velha e encontrei lá a caderneta: lá estava, da época passada, é claro... e quando lha mostrei ele sentiu-se realizado... como te percebo!

11:26 AM  
Blogger Mary of Cold said...

Este post é absolutamente delicioso... transborda carinho e ternura!
Parabéns!

3:36 PM  

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