Tuesday, July 01, 2008

Fascinios

Para além do português, da filosofia, da história, o que lhe interessava mesmo era o teatro. Em todas as festas do liceu, fosse o natal ou a récita de finalistas, o Toninho era sempre aquele que tinha as ideias, que escrevia as peças, que ensaiava com mais entusiasmo e só descansava quando nos entusiasmava a nós também. Melodramas e comédias, sketches revisteiros ou arremedos de frei luís de sousa, ele fazia tudo. Não que fosse um ávido espectador de teatro ou sequer um grande cinéfilo (era impossível ser alguma destas coisas por aqueles lados naquela altura), mas alimentava-se de telenovelas da globo e tinha, ele próprio, um projecto para fazer uma telenovela. O enredo crescia em páginas dactilogradas ao serão e ele lia-nos excertos nos intervalos ao mesmo tempo que explicava quais os actores que sonhava ver em cada papel. Estás a delirar, Toninho. Ou talvez não. Terminado o liceu, o Toninho foi estudar direito, imagino que com óptimas notas, e nunca mais soube nada dele até há uns tempos quando vi o seu nome na televisão - ali mesmo, escrito com todas as letras, no genérico de uma telenovela. Já não Toninho mas António, autor de novelas do horário nobre que dá entrevistas para as revistas, conhece as estrelas da nossa praça e que, sem medo, trocou o código civil e a gravata por um sonho de miúdo. Assim é que é.

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